A CINDERELA DO ASFALTO

O esporte tem histórias fantásticas. Histórias de heróis, ídolos nacionais, verdadeiros exemplos de bravura e de conquistas que emocionam e nos fazem resgatar sentimentos às vezes esquecidos.

Entretanto, muitas vezes os fatores mais emocionantes do esporte não são aqueles coroados por medalhas olímpicas ou títulos mundiais. Uma destas histórias é o retrato da vida de uma ex menina de rua.

Ana Luiza dos Anjos Garcez é o seu nome.  Foi criada na FEBEM até os 18 anos, de onde saiu para o seu primeiro e único emprego como doméstica. Roubou a patroa e fugiu para a rua onde viveu por 16 anos. Morou em diversos pontos do centro da cidade de São Paulo, cheirou cola, benzina, cocaína e outros entorpecentes. Roubava para manter o vício. Com medo de sofrer violência sexual vestia-se como garoto, com a cabeça raspada e roupas largas. Mesmo envolvida com as drogas sempre tratou com carinho as crianças na rua, procurando ensiná-las a evitar as drogas. Era conhecida na rua como Tia Punk porque vivia cercada de crianças que protegia.

A MUDANÇA PELO ESPORTE

Sua vida começou a mudar quando ela tinha 35 anos, quando o destino a fez assistir por acaso, a famosa cena do filme “Carruagens de Fogo”. A corrida e a música a emocionaram e resgataram os bons sentimentos do fundo de seu coração. Decidiu então começar a correr. Teve o apoio dos meninos de rua que a transformaram numa “cinderela”, roubando roupas apropriadas, tênis e dinheiro para as primeiras inscrições. Ela conta que aproveitou a experiência e o “treinamento” adquiridos correndo da polícia para iniciar a carreira de atleta. Ocorre que apesar de todas as adversidades da vida, Ana era um “talento esportivo” não detectado, como pudemos  constatar quando ela fez um teste de avaliação conosco na UNIFESP.

Para se ter uma idéia de como ela era uma verdadeira sobrevivente, basta lembrar que ela correu e completou sua primeira maratona, correndo com o saquinho de cola escondido na mão.

Nos últimos vinte anos, já completamente livre das drogas ela fez carreira como corredora. Viajou o mundo, ganhando provas na sua categoria, contando com o apoio do técnico Wanderley de Oliveira.

Fica quase a certeza de que se ela tivesse sido “descoberta” ainda quando jovem, teríamos talvez uma campeã olímpica.

O maior troféu que hoje ela ostenta é, entretanto, o que ela ganhou em uma corrida muito especial. O troféu da vitória na corrida da vida que o esporte lhe deu!

2 Comments

  1. Ainda não tinha lido. Fiquei emocionada. É um pecado o que um país com oportunidades para tão poucos faz com talentos como esse. Se fosse em um lugar com estrutura provavelmente ela já se destacaria na escola, ganharia bolsas para estudar e por aí vai. E o reflexo é um país desse tamanho com tão poucas medalhas Olímpicas.
    E mais triste ainda é saber que não é só no esporte que talentos são desperdiçados pela falta de estrutura.

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